sexta-feira, 28 de julho de 2017

ABORDAGEM PONTES resumo por Alda de Jesus Oliveira

LIVRO: A abordagem PONTES para a Educação Musical: Aprendendo a Articular (SP: Paco Editorial, 2015).
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A Abordagem PONTES é uma perspectiva de formação de professores de Música que são preparados para encontrar caminhos e possibilidades de articulação e mediação com seus alunos, com os contextos socioculturais e entorno escolar, com diferentes repertórios, a partir das suas experiências pessoais, dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida e da realidade que se apresenta em sala de aula, capacitando-os para o uso criativo e musical dos recursos que estão disponíveis em qualquer condição sócio-econômica-cultural.
Assim como uma ponte de madeira ou de concreto conecta de forma segura espaços geográficos desconectados, uma ponte pedagógica desenvolvida em aula pelo professor conecta os alunos aos saberes e ao conteúdo da matéria de forma significativa e adequada.  Estas pontes quando bem-sucedidas, não deixam os alunos cair ou balançar, deixam eles preparados para serem bem-sucedidos na profissão que abraçaram.
O professor formador de outros professores, quando adota a visão articulada PONTES, desenvolve nos professores ou leigos competências que vão permitir ações de mediação, muito relevantes no mundo atual, onde os grupos sociais apresentam mobilidade geográfica, diversidade racial, de gênero, de culturas e de religiões.
Durante o período de formação nas instituições de ensino superior, os professores aprendem métodos e técnicas que os habilitam a ensinar música para crianças e jovens, porém somente isso não é suficiente.  Esse tempo é relativamente curto para atender a essa grande diversidade de interesses e realidades de ensino atual nas escolas e comunidades. Portanto, os formandos precisam entender que os métodos de trabalho vão precisar ser flexibilizados e adaptados frequentemente para atender a essa diversidade sociocultural e aos interesses dos grupos.
A abordagem PONTES foi pensada para tentar aproximar os atores do processo educativo (professores, alunos, etc.) aos conteúdos e habilidades curriculares de formas criativas.  Assim, os métodos e processos de ensino das disciplinas ou ensaios musicais/artísticos podem ser conectados ou articulados às propostas e visões das escolas, aos contextos socioculturais, à diversidade musical, atenuando conflitos, aproximando pessoas e saberes, transitando entre o formal e o informal.
A abordagem PONTES prepara o professor para tomar decisões customizadas, personalizadas, que incluem conhecimentos anteriores, criatividade, lógica, intenção, emoção e sensibilidade à realidade de ensino trabalhando a música como meio de educar e também como fim, ou seja, preparando a pessoa para ser um profissional, um músico.
As pontes são as adaptações de técnicas de ensino musical que o professor faz em sala de aula, e, em especial, aquilo que o professor cria para atender as características pessoais dos aprendentes, seus interesses, preferencias musicais e as suas aptidões e necessidades pessoais.
                As articulações pedagógicas são as ações ou propostas pedagógicas feitas para atender aos anseios comunitários, aos grupos e propostas de fora do ambiente escolar, mas que podem significar resultados mais significativos para todos os envolvidos da escola.
A premissa básica da abordagem PONTES é que o desenvolvimento de competências que podem ser usadas na formação pedagógica de quem se dedica ao ensino, começa cedo e é contínuo. Considero que a formação profissional, em especial relacionada às habilidades articulatórias, ocorre não somente nos cursos oferecidos nas instituições formais, mas também no contexto informal (família, igreja, associação, brincadeiras de rua e outras organizações sociais). Assim, quando o indivíduo começa um curso de formação de professores, ele já traz experiências musicais e pedagógicas em vários níveis, que podem ser usadas na sua  prática de ensino, de acordo com os seus propósitos educativos.
Nada se cria a partir do nada.  A abordagem citada, foi desenvolvida a partir da minha própria experiência de ensino de música para vários níveis e em pesquisas, especialmente aquelas com os orientandos na pós-graduação da UFBA que usaram esse referencial para seus projetos, assim como também foi desenvolvida com a observação de vários mestres da cultura popular da Bahia.
Como a escola é uma instituição em permanente estado de construção social, considero pertinente o uso da visão que aqui é apresentada para formar os professores que irão ensinar música em vários contextos e realidades socioculturais brasileiras.  Diante dos desafios que encontramos nas escolas, percebo que temos de formar educadores articulados que cheguem na sala de aula com múltiplas ações, que saibam mediar os conhecimentos aos tipos dos alunos através de pontes criativas e ativas. Ou seja, a formação do professor atual precisa possibilitar aproximações com os atores do contexto educacional (escolas, professores, pedagogos, diretores, comunidade do entorno social, currículos das disciplinas), envolvendo os participantes em torno dos saberes e habilidades que serão úteis na vida do aluno e para a sociedade como um todo orgânico.
Assim, na visão PONTES de formação de professores, os indivíduos aprendem as metodologias de ensino da música, aprendem a matéria a ser trabalhada, aprende as técnicas, mas, diante da diversidade e dos desafios que se apresentam nos contextos escolares brasileiros, esse indivíduo terá de estar disposto a se conectar com atividades que ajudem os integrantes desses contextos a aprender e se desenvolver.  Professores articuladores podem estar preparados para lidar por exemplo, com os “amplificadores de cultura” (termo de Jerome Bruner, 1971, 1972) tão usados na atualidade como celulares, computadores, whatsap, facebook, vídeos, etc. Ou também podem trabalhar com ensino de instrumentos musicais em grupo ou individualmente, com apreciação de músicas da cultura erudita ou popular, com improvisação, composição, regência e produção de grupos artísticos, com o trabalho vocal (solo ou coral), com música para teatro e dança, etc.  Os processos articulatórios são necessários e imprescindíveis em todas essas realidades.
No meu livro “A abordagem PONTES para a Educação Musical: Aprendendo a Articular” (SP, Paco Editorial, 2015), a abordagem PONTES é organizada em três aspectos, que são interligados:
Elementos PONTES (Positividade, Observação, Naturalidade,
Técnica, Expressividade e Sensibilidade)
(Definições na pag. 25)
Estes elementos são ressaltados pois são os mais presentes em professores e mestres com atuações bem-sucedidas.  Formam a palavra PONTES, um acróstico que serve principalmente para lembrar ao professor da sua relevância.
Competências pedagógicas para cada elemento ressaltado
Níveis de habilitação profissional, ou seja, os níveis de qualidade de execução das articulações pedagógicas (mais amplas e que incluem o contexto) e as pontes (articulações em sala de aula).

Cada elemento da abordagem PONTES é detalhado em relação às pessoas, aos conteúdos  da música, à aprendizagem e interpretação musical, ao contexto sociocultural e em relação a comportamentos saudáveis.
Posso citar algumas propostas mediadoras (articulações pedagógicas) como: a criação na escola de grupos mistos ou de percussão com auxílio de um mestre da cultura popular; organizar miniprojetos criativos de música e apresentar em festivais e feiras de conhecimento; aproveitar os conhecimentos musicais dos professores de classe das diversas disciplinas para ensinar música e trabalhar os elementos das artes; entrosar de forma transversalizada, os conteúdos de música com os conteúdos de outras disciplinas do currículo escolar; realizar aulas públicas para a comunidade e aproveitando os seus saberes para ressignificar os conteúdos trabalhados com os alunos; buscar conexões entre estilos musicais e diferentes períodos históricos (comidas, roupas, modos de falar e andar, etc.) de diferentes localidades (regiões do Brasil, cidades da Bahia, etc.); fazer projeto de “livro virtual de memórias musicais” com as famílias, professores, colegas ou amigos da comunidade, gravando as músicas preferidas e que ficaram nas suas memórias; convite a músicos locais para realizar vivências musicais e artísticas com as crianças em sala de aula ou em algum espaço do entorno escolar.
Também cito algumas pontes que aconteceram na minha prática e meus alunos/colegas: fazendo conexões em sala de aula através da audição de CDs, vídeos e leitura de apostila contendo canções e descrição das características de cada cultura (Brasil, Canadá, Quênia e China) visando trabalhar e avaliar a consciência cultural e a aceitação das diferenças; criação de estrutura sonora (partitura) a partir dos sons que os alunos propõem durante a aula; uso da voz com expressividade para imitar a natureza, os animais, os modelos vocais que escutam na mídia ou nas gravações, visando aproximar os alunos da natureza e do entorno sonoro, sustentabilidade ambiental; pontes em sala de aula visando expressar emoções e ilustrar brincadeiras infantis; pontes com as manifestações culturais locais para interpretar canções da cultura popular; realizar brincadeiras cantadas e chamar a atenção para os conteúdos trabalhados em relação às outras disciplinas.
NOTAS:
Apostila sobre a abordagem PONTES pode ser encontrada no Blog da autora: www.aldaoliveira.com.br

O livro pode ser encontrado em Português (impresso) e também em Inglês, no formato eletrônico, na Paco Editorial.

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