LIVRO: A
abordagem PONTES para a Educação Musical: Aprendendo a Articular (SP: Paco
Editorial, 2015).
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A Abordagem
PONTES é uma perspectiva de formação de professores de Música que são preparados
para encontrar caminhos e possibilidades de articulação e mediação com seus alunos,
com os contextos socioculturais e entorno escolar, com diferentes repertórios,
a partir das suas experiências pessoais, dos conhecimentos adquiridos ao longo
da vida e da realidade que se apresenta em sala de aula, capacitando-os para o
uso criativo e musical dos recursos que estão disponíveis em qualquer condição
sócio-econômica-cultural.
Assim como
uma ponte de madeira ou de concreto conecta de forma segura espaços geográficos
desconectados, uma ponte pedagógica desenvolvida em aula pelo professor conecta
os alunos aos saberes e ao conteúdo da matéria de forma significativa e
adequada. Estas pontes quando bem-sucedidas,
não deixam os alunos cair ou balançar, deixam eles preparados para serem
bem-sucedidos na profissão que abraçaram.
O professor
formador de outros professores, quando adota a visão articulada PONTES, desenvolve
nos professores ou leigos competências que vão permitir ações de mediação,
muito relevantes no mundo atual, onde os grupos sociais apresentam mobilidade
geográfica, diversidade racial, de gênero, de culturas e de religiões.
Durante o
período de formação nas instituições de ensino superior, os professores
aprendem métodos e técnicas que os habilitam a ensinar música para crianças e
jovens, porém somente isso não é suficiente.
Esse tempo é relativamente curto para atender a essa grande diversidade
de interesses e realidades de ensino atual nas escolas e comunidades. Portanto,
os formandos precisam entender que os métodos de trabalho vão precisar ser
flexibilizados e adaptados frequentemente para atender a essa diversidade
sociocultural e aos interesses dos grupos.
A abordagem
PONTES foi pensada para tentar aproximar os atores do processo educativo
(professores, alunos, etc.) aos conteúdos e habilidades curriculares de formas
criativas. Assim, os métodos e processos
de ensino das disciplinas ou ensaios musicais/artísticos podem ser conectados
ou articulados às propostas e visões das escolas, aos contextos socioculturais,
à diversidade musical, atenuando conflitos, aproximando pessoas e saberes,
transitando entre o formal e o informal.
A abordagem
PONTES prepara o professor para tomar decisões customizadas, personalizadas,
que incluem conhecimentos anteriores, criatividade, lógica, intenção, emoção e
sensibilidade à realidade de ensino trabalhando a música como meio de educar e
também como fim, ou seja, preparando a pessoa para ser um profissional, um
músico.
As pontes
são as adaptações de técnicas de ensino musical que o professor faz em sala de
aula, e, em especial, aquilo que o professor cria para atender as características
pessoais dos aprendentes, seus interesses, preferencias musicais e as suas
aptidões e necessidades pessoais.
As articulações pedagógicas são
as ações ou propostas pedagógicas feitas para atender aos anseios comunitários,
aos grupos e propostas de fora do ambiente escolar, mas que podem significar
resultados mais significativos para todos os envolvidos da escola.
A premissa
básica da abordagem PONTES é que o desenvolvimento de competências que podem
ser usadas na formação pedagógica de quem se dedica ao ensino, começa cedo e é
contínuo. Considero que a formação profissional, em especial relacionada às
habilidades articulatórias, ocorre não somente nos cursos oferecidos nas instituições
formais, mas também no contexto informal (família, igreja, associação,
brincadeiras de rua e outras organizações sociais). Assim, quando o indivíduo
começa um curso de formação de professores, ele já traz experiências musicais e
pedagógicas em vários níveis, que podem ser usadas na sua prática de ensino, de acordo com os seus
propósitos educativos.
Nada se
cria a partir do nada. A abordagem
citada, foi desenvolvida a partir da minha própria experiência de ensino de
música para vários níveis e em pesquisas, especialmente aquelas com os
orientandos na pós-graduação da UFBA que usaram esse referencial para seus
projetos, assim como também foi desenvolvida com a observação de vários mestres
da cultura popular da Bahia.
Como a
escola é uma instituição em permanente estado de construção social, considero
pertinente o uso da visão que aqui é apresentada para formar os professores que
irão ensinar música em vários contextos e realidades socioculturais
brasileiras. Diante dos desafios que encontramos
nas escolas, percebo que temos de formar educadores articulados que cheguem na
sala de aula com múltiplas ações, que saibam mediar os conhecimentos aos tipos
dos alunos através de pontes criativas e ativas. Ou seja, a formação do
professor atual precisa possibilitar aproximações com os atores do contexto
educacional (escolas, professores, pedagogos, diretores, comunidade do entorno
social, currículos das disciplinas), envolvendo os participantes em torno dos
saberes e habilidades que serão úteis na vida do aluno e para a sociedade como
um todo orgânico.
Assim, na
visão PONTES de formação de professores, os indivíduos aprendem as metodologias
de ensino da música, aprendem a matéria a ser trabalhada, aprende as técnicas,
mas, diante da diversidade e dos desafios que se apresentam nos contextos
escolares brasileiros, esse indivíduo terá de estar disposto a se conectar com atividades
que ajudem os integrantes desses contextos a aprender e se desenvolver. Professores articuladores podem estar
preparados para lidar por exemplo, com os “amplificadores de cultura” (termo de
Jerome Bruner, 1971, 1972) tão usados na atualidade como celulares,
computadores, whatsap, facebook, vídeos, etc. Ou também podem trabalhar com
ensino de instrumentos musicais em grupo ou individualmente, com apreciação de
músicas da cultura erudita ou popular, com improvisação, composição, regência e
produção de grupos artísticos, com o trabalho vocal (solo ou coral), com música
para teatro e dança, etc. Os processos
articulatórios são necessários e imprescindíveis em todas essas realidades.
No meu
livro “A abordagem PONTES para a Educação Musical: Aprendendo a Articular” (SP,
Paco Editorial, 2015), a abordagem PONTES é organizada em três aspectos, que
são interligados:
Elementos
PONTES (Positividade, Observação, Naturalidade,
Técnica,
Expressividade e Sensibilidade)
(Definições
na pag. 25)
Estes
elementos são ressaltados pois são os mais presentes em professores e mestres
com atuações bem-sucedidas. Formam a
palavra PONTES, um acróstico que serve principalmente para lembrar ao professor
da sua relevância.
Competências
pedagógicas para cada elemento ressaltado
Níveis de
habilitação profissional, ou seja, os níveis de qualidade de execução das articulações
pedagógicas (mais amplas e que incluem o contexto) e as pontes
(articulações em sala de aula).
Cada
elemento da abordagem PONTES é detalhado em relação às pessoas, aos
conteúdos da música, à aprendizagem e
interpretação musical, ao contexto sociocultural e em relação a comportamentos
saudáveis.
Posso citar
algumas propostas mediadoras (articulações pedagógicas) como: a criação na
escola de grupos mistos ou de percussão com auxílio de um mestre da cultura
popular; organizar miniprojetos criativos de música e apresentar em festivais e
feiras de conhecimento; aproveitar os conhecimentos musicais dos professores de
classe das diversas disciplinas para ensinar música e trabalhar os elementos
das artes; entrosar de forma transversalizada, os conteúdos de música com os
conteúdos de outras disciplinas do currículo escolar; realizar aulas públicas
para a comunidade e aproveitando os seus saberes para ressignificar os
conteúdos trabalhados com os alunos; buscar conexões entre estilos musicais e
diferentes períodos históricos (comidas, roupas, modos de falar e andar, etc.) de
diferentes localidades (regiões do Brasil, cidades da Bahia, etc.); fazer
projeto de “livro virtual de memórias musicais” com as famílias, professores, colegas
ou amigos da comunidade, gravando as músicas preferidas e que ficaram nas suas memórias;
convite a músicos locais para realizar vivências musicais e artísticas com as
crianças em sala de aula ou em algum espaço do entorno escolar.
Também cito
algumas pontes que aconteceram na minha prática e meus alunos/colegas:
fazendo conexões em sala de aula através da audição de CDs, vídeos e leitura de
apostila contendo canções e descrição das características de cada cultura
(Brasil, Canadá, Quênia e China) visando trabalhar e avaliar a consciência
cultural e a aceitação das diferenças; criação de estrutura sonora (partitura) a
partir dos sons que os alunos propõem durante a aula; uso da voz com
expressividade para imitar a natureza, os animais, os modelos vocais que
escutam na mídia ou nas gravações, visando aproximar os alunos da natureza e do
entorno sonoro, sustentabilidade ambiental; pontes em sala de aula visando expressar
emoções e ilustrar brincadeiras infantis; pontes com as manifestações culturais
locais para interpretar canções da cultura popular; realizar brincadeiras
cantadas e chamar a atenção para os conteúdos trabalhados em relação às outras
disciplinas.
NOTAS:
Apostila sobre a abordagem PONTES pode ser encontrada
no Blog da autora: www.aldaoliveira.com.br
O livro pode ser encontrado em Português (impresso) e
também em Inglês, no formato eletrônico, na Paco Editorial.
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